Robert Stam: O Espetáculo Interrompido
Robert Stam, um teórico influente da área de estudos
de cinema e literatura, desafia as concepções tradicionais de adaptação ao
questionar a ideia de que uma obra adaptada deve ser fiel ao texto original.
Em vez de ver a adaptação como uma tradução servil de uma mídia para outra,
Stam propõe uma abordagem mais aberta, pluralista e inovadora que rompe com
noções estabelecidas de fidelidade e hierarquia entre diferentes formas de
arte. Robert Stam desmistifica a noção de que o texto literário original
deve ser tratado como uma entidade intocável, imune às transformações causadas
pela adaptação, ao argumentar que a adaptação é, em essência, um processo
criativo e interpretativo. Para ele, o texto original não é sagrado nem
inviolável, mas sim uma obra aberta a múltiplas leituras e recriações em
diferentes meios.
Uma das críticas principais de Stam às abordagens
tradicionais é a ênfase na fidelidade, um conceito que ele considera
problemático, uma vez que ignora as diferenças entre os meios (como literatura
e cinema, por exemplo) e a própria natureza da interpretação artística. Ele
também discute como o valor da "fidelidade" muitas vezes está
atrelado a noções hierárquicas, onde a obra literária é vista como superior ao
filme, o que resulta em uma desvalorização da adaptação. Stam questiona a ideia
tradicional de "fidelidade" à obra literária, ressaltando que a
transposição de um livro para o cinema, teatro ou outras mídias não podem ser
julgada simplesmente pela precisão com que replica o texto original. Cada meio
tem suas especificidades — o cinema, por exemplo, trabalha com imagens em
movimento, som e música, enquanto a literatura depende da palavra escrita e da
imaginação do leitor. Esses elementos resultam em mudanças inevitáveis, que vão
desde a estrutura narrativa até a forma de representar personagens e eventos.
Além disso, ele critica o que chama de uma visão
"fetichista" do texto literário, que o coloca como uma forma
definitiva e imutável. Para o autor, todo texto já é, por si só, uma adaptação,
pois é influenciado por outros textos, contextos e códigos culturais. A
adaptação cinematográfica, então, deve ser vista como parte desse contínuo
processo de transformação e diálogo intertextual, em vez de uma simples
"traição" ou distorção do original. Segundo Stam, as adaptações devem
ser vistas como "hipertextos" — ou seja, criações que dialogam com o
"hipotexto" original (o texto de base), mas que têm autonomia
própria. Ele argumenta que a transposição de um meio para outro inevitavelmente
envolve transformações que vão além da mera reprodução de um conteúdo
narrativo, e essas mudanças são influenciadas por aspectos culturais, sociais e
tecnológicos do meio receptor.
Portanto, Robert Stam incentiva uma compreensão mais
dinâmica da adaptação, considerando-a como um processo criativo que reflete o
contexto e as possibilidades de cada meio, ao invés de uma simples cópia ou
versão secundária do texto original. Ele nos convida a uma compreensão mais
flexível e multifacetada da adaptação, na qual o texto literário é apenas uma
entre várias versões possíveis de uma história. Em vez de ser imune a
transformações, o original é uma fonte que inspira novas criações, cada uma
legítima dentro de seu próprio contexto artístico e cultural.
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